segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Porque disseram que era assim

Mania infeliz que temos de inventar perguntas, buscar respostas, estabelecer papéis.
Humano, demasiado humano...
E aí tem mais um desafio de leve: traduzir tudo isso com os recursos limitados da nossa linguagem!
E daí nasce o terror!
Um deles, pelo menos!

- O certo é ser machista;
- É ser feminista;
- Você tem que ser um pouco egoísta!
- Seja vaidosa. Homem gosta que pinte os olhos!
- "Maldito é o homem que confia no homem"
- Trabalhe à exaustão;
- Viaje;
- Honrarás pai e mãe.
- Não saio com petista
- Não saio com tucano
- Não me posiciono politicamente
- Você fala demais
- Não gosto de mulheres peludas
- Não vai comer ninguém

E todo mundo sabe o certo pra nós... e vamos tentando atender a absolutamente todas as expectativas, representar todos os papéis, ser o mais neutro possível, não ofender ninguém, ser o mocinho da história, ser o cara legal com todos...
E enquanto vamos ticando essa lista de tarefas, ocupamos a cabeça e não temos tempo de nos questionar "por que estou fazendo isso? Quem realmente está fazendo isso?"
Porque disseram que era assim...

sábado, 18 de outubro de 2014

Estéril

Era estéril
E ela suja, pensa "saia"
Não, não, não...

Era hostil...
simetria e perfeição
a repelia.
E tinha um personagem que fugia...

Era o que queria
Até o prefácio
Sem saber
Saía...

domingo, 20 de julho de 2014

Meu Limão, Meu Limoeiro... Meu pé de Mortadela!

Não convivi com meu avô paterno. Lembro de tê-lo visto umas cinco vezes e era um cara sisudo. Nunca sorriu pra mim, mas isso nunca me causou dano. Foi na minha vida um gás inerte.
Meu pai não se dava com ele. Tinha seus motivos. Teve uma infância marcada por um pai violento, mas ainda assim, houve momentos da minha vida em que me lembro dele falando com ternura de poucas gaiatices da figura em questão.
Uma das histórias que jamais esqueci foi a de quando, á mesa ele apontou a pimentinha dentro da mortadela e disse:
- Está vendo isso? É uma semente de mortadela!
Os três filhos deslumbraram-se com a possibilidade de ter no quintal um pé de mortadela e no mesmo dia plantaram a semente num lindo vaso!
Todos os dias, religiosamente, regavam de manhã, à tarde e à noite.
As três crianças inocentes dedicavam todo o seu amor a esse projeto mas, com o passar do tempo viam que não havia resultado. Vez ou outra, aparecia um matinho e era uma alegria imensa, mas eles logo notavam que tratava-se apenas de capim...
A frustração ia brotando no rosto das crianças, mas elas nunca admitiram a possibilidade de o pai ter mentido. Afinal, era o mestre-soberano-papai-sabe-tudo!
A desistência não tardou e até hoje eu não sei se ele chegou a desmentir a história ou se simplesmente caiu em desuso, perdeu a graça...

Recentemente lembrando-me dessa história, fiz uma analogia.

Estava eu, aos trinta e dois anos de idade, plantando mortadela!
Plantara uma sementinha que, sobre a qual, por mais amor que eu despejasse, não brotaria. Porque mortadela não nasce em árvore.
Não era problema na terra. Ali habitavam outros seres viventes!
Não era negligência. Ali eu aguava todos os dias.
Com o passar dos tempos, a criança em mim experimentou a frustração e, como acontece com alguns brinquedos, logo veio o desinteresse!
Vez ou outra, olhava o vasinho num canto e me lembrava da alegria tamanha de ver ali a possibilidade de uma mudinha brotando. Depois suspirava lamentando e ia me dedicar a outra atividade! Como se aquela empreitada não tivesse importância!
Um dia descobri que não se tratava de uma semente de mortadela. Disseram-me: "Isso é pimenta!"
E deslumbrei-me com a possibilidade de ter uma arvorezinha com aqueles pingentes vermelhos!
Brotou em mim novamente uma onda de ternura e encantamento e dediquei-me religiosamente a cuidar daquela pequena vida!
Nada.
Então entendi.
Era pimenta. Mas ela não brotaria.
A missão daquela pimentinha era tão somente dar sabor à experiência de uma mordida.
Uma experiência que quando acaba, deixa gostinho de "quero mais".

Entendi que nem o amor mais puro tem o poder de mudar a natureza das coisas!

Então fui à cozinha, fiz uma limonada e brindei a possibilidade de mudar, na minha vida as coisas que estão ao meu alcance. E Pus-me a pensar no que fazer com o vaso!

E ali está ele, olhando pra mim como quem espera, pacientemente um destino...
E pensei que também fui, por um tempo um vaso a esperar...

sexta-feira, 21 de março de 2014

... Sem Tamanho ...

Era de repente uma conversa despretensiosa que varou a noite.
De despretensiosa que era, desnudou almas feridas...
cascudas...

Era de repente manhã e o pensamento pulsava...
Intraduzível...
Incômodo até...

No cotidiano simétrico, pensava nele...

"Pensar em alguém? Por que?"

No cotidiano frígido, pensava nele...

"Nele? Quem é ele? Não é nada!"

Era de repente outono em algum lugar do mundo...
Ou seria um novembro qualquer?
Era o dia, o desembrarque - o encontro.

... o encanto...
Era de repente magia... Quebrando o cotidiano e toda aquela...
Simetria
Triste a Fria

quinta-feira, 20 de março de 2014

... Sentidos ...

- Onde está sua emoção?
- Eu não sei do que você está falando...
- Então não deveríamos estar aqui...
- Eu te amo!
- Não é o suficiente.
- O que mais você quer?
- Aquilo que tinha e não tem mais...
- Mas O QUE?
- Se você não sabe... que diferença faz?

Deu mais um trago e saboreou o silêncio amargo.
Não lamentava pela partida.... aquilo era até um alívio...
Lamentava por não ter mais...

Lembrou-se de "Closer", a cena final, quando Alice caminhava ao som daquela música pavorosamente chata!
Caminhou igual, por tempos em profunda apatia e superficialidade!
Chegou até a crer ... "Gosto disso! É um estilo"
Era um estilo diferente de vazio!
Um vazio diferente... gerenciável! Um vazio individual... que não dependia de outra pessoa!
Preencheu com sons, toques e sabores... e cores e etnias...
Jogou War. Mas depois de cumprir seu objetivo, resolveu conquistar todos os continentes!

Conquistou...
E encontrou seu aconchego num tropeço de vinte anos antes...
Aquele olhar trocado no baile de formatura do colégio...
Aquele par de olhos de jabuticaba...

- Vai enjoar de mim?
- Claro! Tal qual eu enjoaria de cerveja! É evidente! Um dia vou acordar e dizer pra mim : 'Hoje... não vou beber cerveja... porque eu não quero! Porque... não gosto mais!" ... Nesse dia terei enjoado de você!
- Parece bom! Podemos dormir?
- Que tal depois?
- Bom também!
- Ei!
- Oi!
- Isso... isso tudo... ou até esse nada... qualquer coisa que seja... parece que tem uma emoção... diferente... to falando bobagem ou não sei me expressar...
- Eu sei exatamente do que você está falando!
Parece bom!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

:: dos amores e nenhum perigo

e
você sabe que é amor
quando oferece
a escova de dentes
sem nenhuma cerimônia
e
a pessoa
aceita sem
questionar.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Hit the road, Dee Dee

"E um dia ela chegou em casa... e eu naquele escuro... era tudo tão mal, depressivo...Ela sentou na minha cama e disse 'vem cá, deita aqui no meu colo!'
Eu deitei.... e escorreu uma lágrima que bateu na coxa dela...
Ela me perguntou 'o que foi?' e num timbre abafado que misturava dor, angústia, dúvida, respondi 'eu não sei...'
E eu não sabia mesmo!
Após alguns minutos de eterno silêncio, sua voz ecoa:
- Você não gosta mais de mim?


E de repente tudo fez sentido!
E de repente a escuridão sumia gradativamente!
.
.
- Não... não gosto mais!"

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

:: no balcão




Era bem aqui
Vou ouvir, 
e depois desenhar.


Agora aqui
Vou ouvir os sorrisos
E depois desdenhar.
O que por um tempo era solitude
Transformou-se em solidão.

Enquanto solitude
As coxas brancas com furinhos
eram a coisa mais charmosa que já vira.

Agora solidão
qualquer sorriso
não passa
de qualquer farsa.

Bem
o que era
desigual

Mal
o que é
tudo igual.