sábado, 8 de agosto de 2015

:: até daqui a pouco



tempo tempo
amigo
necessário
companheiro do esquecimento

_apresento-me,
esqueça.
é só por um tempo.

me esqueça
faça por nós

tempo

é o tempo sendo
errado.
uma falha
é dissonância dos nossos quereres,
é divergência entre nossos demônios.

vou dar adeus
para um dia retornar









sábado, 27 de junho de 2015

:: por aí

Sem sono e sem negação
Mudo de mim nesta madrugada insone,
admito não ser aqui que estou.
Por aí... por entre suas pernas,
no abraço de um peito que dorme,
respira na minha nuca
e
coloca trilha sonora nos pensamentos
É por aí que estou.
Mudo de mim nesta madrugada
e aninho-me no seu colo.
Para passar o frio, para colocar música nos pensamentos,
para acabar com silêncios ensurdecedores.
Hoje, de mim tem mais querer você.
Não estou aqui,
é por aí
que estou.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

:: qual dos quais e poréns

Para a beira do abismo segui teus passos.
Dei-lhe a mão.
Encaminhou-me para um infinito particular.

Colocou-me de conversa com demônios, ora amigos seus, ora amigos meus.
Fiquei atordoada,
num vazio que não cavei.

Compartilhei por demanda.
Ofertei o que pude.

Negou o que disseram-te para negar.
Submisso, ficou.
Livre, eu fui.

Saiba você e não esqueça: nunca quis seu melhor.
Dele, distancio-me com mãos de adeus.

Livre, você era livre para ser o pior.
Livre era para ficar com o que tinha.

Não quis arrombar-lhe a porta mas aceitaria que arrombasse a minha.

Na perdição de estar só com alguém ao lado, o menos pior seria ter o teu pior.

No silêncio atordoante da madrugada, pensamentos passearam por infernos meus, por infernos seus.
Na luz sufocante do dia, correr de mim era o início para fugir de ti.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

:: não li, e concordo.

Não li, e concordo.
Por que não?

Riscos.

O medo do pé na porta,
O assombro de ter a privacidade invadida,
O não querer da exposição.

Pra quê?

Não li, e concordo.
Entrelinhas não servem.
Detalhes não esclarecem.

Não li, e concordo.

Se eu for invadida,
que seja com meu consentimento.
Por livre e espontânea vontade do agora.
Do que me cabe e serve hoje.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

:: perdido na noite

Há tempos não ouve o ruído das estrelas.
Conta as batidas do coração no marasmo das horas no sofá.
Já não tem números nas mãos, perdeu as contas.

Na desordem da cozinha, não encontrava o pão de forma vencido ou os pacotes de miojo.
Contentou-se com leite da geladeira e o achocolatado do armário.

Vai para o quarto.

Olha pela janela com a caneca quente entre as mãos.
Chega até o outro lado do horizonte sem se dar conta da viagem. Do caminho.
Já que chegou, uiva para a lua.
Ela nem está cheia mas o peito transbordando toma a iniciativa.

No uivo, não perde o volume de emoções há tempos acumulado.
Volta para a sala.
Perde-se no ninho, no canto de um cômodo que sempre foi alegria.

Tem algo na TV. Tem algo entre os dedos. Tem algo no copo.

Tem tudo no peito.
E quase nada sai da cabeça.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

:: adeus

Acordo.

Olho para o teto e ele gira.
Fecho os olhos num aperto como se fosse o freio para aquilo.
Claro, não adiantou!

Sento. Não lembro.

Olho em volta e tento contar as garrafas vazias espalhadas.
Perco as contas.
Elas estão em movimento, não dá para acompanhá-las.

Cinzeiro virado. Almofadas pelo chão.

No computador, a pasta com músicas está escancarada.
A subpasta aberta me dá o primeiro indício do que houve...

Não, não é o mundo pós-apocalíptico...
é só minha sala depois do adeus.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

Não é assim

De novo...
Mas diferente!

Aquele olhar que atravessa o salão e se detém num mover tão comum,
Um sorriso igual...
Tão simples!

Um caminhar natural até o meio-fio, como se nada fosse
Um giro de cabeça e um beijo sem pedir licença,
Sem desculpa

Olhos que falam...
Como pode?
Olhos que falam!

Boca que confirma.

Corpo que foge

Alma que cai

Coisa...
Uma coisa que atravessa e tira o ar!
Uma coisa que quase faz doer...

"é cedo. CEDO!"
- Porque tudo tem seu tempo...

- Não temos tempo!
- Por isso...
- Ainda assim...
- Não...
- Não minta...
- Ok...

...
- Bom dia! Café?
- Foi de verdade... e será... e é!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

:: pedaços

Os grampos do seu cabelo ficaram aqui.
Estão no mesmo lugar que deixou.
Os odeio. Sempre os odiei.

Tem também um batom.
De todos os seus batons, tinha que largar por aqui justamente este vermelho?
Como detestava o sorriso dele.
Irrito-me ao lembrar dos beijos que ele dava em minha boca.
As marcas que deixava perturbam até hoje.

Ficou aqui seu chinelo.
Que garota não toma banho descalça ao menos uma vez na vida?

Já lavei os lençóis, a cortina, as toalhas, os panos de prato. Coloquei os travesseiros sob o sol. Nada adiantou.
Seu maldito cheiro fica zanzando entre estas paredes.

Inclusive,
a porra do seu creme diz boa noite a madrugada inteira.

Por aqui ficaram alguns anéis. Ridículo usá-los em par. Um no indicador e outro no médio.
Mas nada tão horroroso quanto os esmaltes vermelhos. Têm arranhões rubros em todas as paredes.

Sua caneca ocupa um espaço desnecessário.
Seu cinzeiro não tem utilidade.
Sua azálea está morrendo.

E para que serve-me o quadro que inventou pintar e colocar na parede da cama?
Para que servem os carrinhos que colocou na minha estante?

Os filmes que baixou deixam meu computador lento.
E o tapetinho na beira da pia só serve para sujar.

Garota, por favor, apareça.
Faça as malas.
Recolha seus pedaços.
Preciso recolher os meus.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

:: a lua e a garota

Ela sabia.
Estava certa que a lua cheia apareceria.
Gritava aos quatro ventos sua chegada.
Diziam todos: "não é o período correto, está louca"
Sentou e esperou.
Acampou no quintal.

No roteiro, sua cerveja favorita, cigarros entre dedos de pontas vermelhas e uma promessa... - Ela virá.

Tinham razão. Era o período errado.
Dizem que há um ciclo à ser respeitado.
- Ela virá.
Mas na bagunça dos dias a própria lua 
perdeu-se. Esqueceu de ser cheia.
A garota?
Vejo-a acampada todas as noites.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

:: a fuga

Numa calada solitude sentia o aconchego de teu colo.
Dos dias seguintes, das memórias de estrelas, do cheiro grudado na pele, fiquei à espera.
Agora,
Decomposta,
sou só parte duma saudade louca por alguma coisa.
Decomposta,
estou em círculos no devaneio de um dia,
querendo resgatar da lembrança o gosto que tive nos lábios.
Decomposta,
desequilibrei-me, cai num abismo qualquer do querer.

Quero,
vou fugir.
E tenho razões tantas, 
que a fuga de mim mesma nem será difícil.

Corrida ao som
de exclamações em sussurros.
Na solidão de um ponto.


sábado, 24 de janeiro de 2015

:: dia seguinte

o gosto do gozo na garganta
o cheiro da casa na bolsa
o odor da pele no corpo
madrugada para estar
dia seguinte para não ser


eu e você


cada qual, só


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

:: madrugada

A encoxada na bundinha mirrada.
Muito branca mas nem percebeu.
Seios nas mãos.
Mãos no pescoço num aperto de tirar o ar.
Ataque de beijos
com sabor de cerveja, cigarros e creme dental.
Estrelas de desejo numa parede branca.
Lapsos.
Quando deu por si ainda estava com estrelas em céu nenhum.
Queria ficar ali. Aos sussurros.
Em mãos, entregue.
Madrugada que finda, sabia.
Pássaros na janela para um despertar confuso.
Água sem gás.
Pele tatuada para deleite. Alva, esperando beijos e o rubro de arranhões do desejo.
Bom dia para olhos.
Faltou o café. Aquele sem açúcar.
Faltou o ponto.

:: na sua casa ou na minha

Nos seus espaços me perco.
Não sei quem és.
Me perco.
Não sei quem sou.
No meu labirinto me perco.
No meu labirinto não sei quem sou.
Nele, não sei onde estás

:: a trilha

No monte me perdi.
Era um aventureiro. Um explorador.
Percorri toda a trilha com sorrisos.
Maçãs do topo. Mordidas nos sorrisos.
O penhasco entre os seios.
Com a língua de fora, desci as curvas com penugem rala.
Bebi do orvalho que havia pelo caminho para amenizar a sede.
Ao sul demais vi pontas vermelhas. Estrelas cor de rubi.
Toquei-as para estar perto do céu.
Do nada, volto ao norte. Bebo da garoa de seus lábios.
Mordo mais um pouco as maçãs rubras, estou com fome.
Na viagem atemporal conduzida pelo desejo vou ao monte sem perceber.
Me perco.
Por instantes me perco.
Até que avisto a entrada.
Iluminada pela humidade. No calor que passava, com o fogo em minhas entranhas, preciso daquele líquido.
Atravesso.
Entro com cuidado.
O calor é forte.
Encontro conforto em meio aos fluidos.
Fico, fico, fico.
Me perco. Me encontro.
E ao final. Descanso no crepúsculo. Repouso nos montes ao norte.
E adormeço neles. Com a paz que a caverna me trouxe. Com a paz que a trilha me deu.

sábado, 10 de janeiro de 2015

:: crepúsculo

Tropeça nos dentes
em meio aos beijos vazios
Cala os lábios
com tragadas intermináveis.
Bebe da saliva que
já não tem sabor

Passeia as mãos
pelos cabelos
sem vontade
de desalinhá-los

E na vertigem
que a beira de um coração
causa
Adormece com um celular
que não toca
Deixou no modo silencioso
só pra
você.