sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

:: pedaços

Os grampos do seu cabelo ficaram aqui.
Estão no mesmo lugar que deixou.
Os odeio. Sempre os odiei.

Tem também um batom.
De todos os seus batons, tinha que largar por aqui justamente este vermelho?
Como detestava o sorriso dele.
Irrito-me ao lembrar dos beijos que ele dava em minha boca.
As marcas que deixava perturbam até hoje.

Ficou aqui seu chinelo.
Que garota não toma banho descalça ao menos uma vez na vida?

Já lavei os lençóis, a cortina, as toalhas, os panos de prato. Coloquei os travesseiros sob o sol. Nada adiantou.
Seu maldito cheiro fica zanzando entre estas paredes.

Inclusive,
a porra do seu creme diz boa noite a madrugada inteira.

Por aqui ficaram alguns anéis. Ridículo usá-los em par. Um no indicador e outro no médio.
Mas nada tão horroroso quanto os esmaltes vermelhos. Têm arranhões rubros em todas as paredes.

Sua caneca ocupa um espaço desnecessário.
Seu cinzeiro não tem utilidade.
Sua azálea está morrendo.

E para que serve-me o quadro que inventou pintar e colocar na parede da cama?
Para que servem os carrinhos que colocou na minha estante?

Os filmes que baixou deixam meu computador lento.
E o tapetinho na beira da pia só serve para sujar.

Garota, por favor, apareça.
Faça as malas.
Recolha seus pedaços.
Preciso recolher os meus.

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