quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

:: a lua e a garota

Ela sabia.
Estava certa que a lua cheia apareceria.
Gritava aos quatro ventos sua chegada.
Diziam todos: "não é o período correto, está louca"
Sentou e esperou.
Acampou no quintal.

No roteiro, sua cerveja favorita, cigarros entre dedos de pontas vermelhas e uma promessa... - Ela virá.

Tinham razão. Era o período errado.
Dizem que há um ciclo à ser respeitado.
- Ela virá.
Mas na bagunça dos dias a própria lua 
perdeu-se. Esqueceu de ser cheia.
A garota?
Vejo-a acampada todas as noites.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

:: a fuga

Numa calada solitude sentia o aconchego de teu colo.
Dos dias seguintes, das memórias de estrelas, do cheiro grudado na pele, fiquei à espera.
Agora,
Decomposta,
sou só parte duma saudade louca por alguma coisa.
Decomposta,
estou em círculos no devaneio de um dia,
querendo resgatar da lembrança o gosto que tive nos lábios.
Decomposta,
desequilibrei-me, cai num abismo qualquer do querer.

Quero,
vou fugir.
E tenho razões tantas, 
que a fuga de mim mesma nem será difícil.

Corrida ao som
de exclamações em sussurros.
Na solidão de um ponto.


sábado, 24 de janeiro de 2015

:: dia seguinte

o gosto do gozo na garganta
o cheiro da casa na bolsa
o odor da pele no corpo
madrugada para estar
dia seguinte para não ser


eu e você


cada qual, só


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

:: madrugada

A encoxada na bundinha mirrada.
Muito branca mas nem percebeu.
Seios nas mãos.
Mãos no pescoço num aperto de tirar o ar.
Ataque de beijos
com sabor de cerveja, cigarros e creme dental.
Estrelas de desejo numa parede branca.
Lapsos.
Quando deu por si ainda estava com estrelas em céu nenhum.
Queria ficar ali. Aos sussurros.
Em mãos, entregue.
Madrugada que finda, sabia.
Pássaros na janela para um despertar confuso.
Água sem gás.
Pele tatuada para deleite. Alva, esperando beijos e o rubro de arranhões do desejo.
Bom dia para olhos.
Faltou o café. Aquele sem açúcar.
Faltou o ponto.

:: na sua casa ou na minha

Nos seus espaços me perco.
Não sei quem és.
Me perco.
Não sei quem sou.
No meu labirinto me perco.
No meu labirinto não sei quem sou.
Nele, não sei onde estás

:: a trilha

No monte me perdi.
Era um aventureiro. Um explorador.
Percorri toda a trilha com sorrisos.
Maçãs do topo. Mordidas nos sorrisos.
O penhasco entre os seios.
Com a língua de fora, desci as curvas com penugem rala.
Bebi do orvalho que havia pelo caminho para amenizar a sede.
Ao sul demais vi pontas vermelhas. Estrelas cor de rubi.
Toquei-as para estar perto do céu.
Do nada, volto ao norte. Bebo da garoa de seus lábios.
Mordo mais um pouco as maçãs rubras, estou com fome.
Na viagem atemporal conduzida pelo desejo vou ao monte sem perceber.
Me perco.
Por instantes me perco.
Até que avisto a entrada.
Iluminada pela humidade. No calor que passava, com o fogo em minhas entranhas, preciso daquele líquido.
Atravesso.
Entro com cuidado.
O calor é forte.
Encontro conforto em meio aos fluidos.
Fico, fico, fico.
Me perco. Me encontro.
E ao final. Descanso no crepúsculo. Repouso nos montes ao norte.
E adormeço neles. Com a paz que a caverna me trouxe. Com a paz que a trilha me deu.

sábado, 10 de janeiro de 2015

:: crepúsculo

Tropeça nos dentes
em meio aos beijos vazios
Cala os lábios
com tragadas intermináveis.
Bebe da saliva que
já não tem sabor

Passeia as mãos
pelos cabelos
sem vontade
de desalinhá-los

E na vertigem
que a beira de um coração
causa
Adormece com um celular
que não toca
Deixou no modo silencioso
só pra
você.